Antes de entrar no conceito de slow fashion temos de entender o que é o Movimento Slow. Segundo este movimento a vida faz-se a um ritmo que promove o bem-estar, o desenvolvimento pessoal, social, comunitário e ambiental.
O Slow Movement teve a sua origem no Movimento Slow Food que nasceu em 1986, em Itália. Com este movimento pretendia-se fazer uma oposição aos valores e cultura associados ao fast food.
Esta tendência tem-se alargado a uma série de outras áreas como a educação, o turismo e também a moda com o Slow Fashion.
Por todo o mundo consome-se demasiada roupa. Quem é que nunca entrou numa cadeia de lojas de roupa “só para ver” e acabou por cair na tentação de trazer uma ou duas peças que nem precisava? A indústria têxtil, na sua generalidade, é altamente poluente para além de ser uma das indústrias mais pouco éticas quando analisamos como são tratados os seus trabalhadores. Quando compramos mais roupa do que aquela de que necessitamos, sem olhar para a sua origem, estamos a contribuir para o problema.
A questão aqui é qual a quantidade de roupa que necessitamos realmente? Porque a roupa na sociedade não é somente algo que satisfaz uma necessidade básica de estar protegido e abrigado. Nós não somos a roupa que vestimos, mas definitivamente a forma como nos vestimos ajuda a definir quem somos e a diferenciar-nos dos demais. Mas para cumprir essa função diferenciadora e de identidade não quer dizer que tenhamos que encher o nosso roupeiro de artigos que muitas vezes usamos uma ou duas vezes e acabamos por pôr de parte.
Conto-vos um pouco a minha experiência com a roupa e a moda ao longo dos anos. A minha mãe era costureira. Durante os primeiros anos da minha vida, não me lembro de ter roupa comprada, tudo era feito. Tinha a roupa necessária e toda original! Com a entrada na adolescência lembro-me de alguma peça comprada e de suspirar muito por calças de ganga! Mas a maioria era ainda feita à medida. E nada se estragava ou desperdiçava. Camisas do meu pai eram transformadas em camisas ou vestidos para mim. Roupa de outros anos que eu já não gostava era desmanchada e feita de novo com um novo modelo. E assim durante muitos anos. Depois comecei a trabalhar e à roupa que ainda era feita pela minha mãe, juntou-se a roupa comprada. Quando voltei para Portugal e mudei totalmente de estilo de vida comecei a perguntar-me porque é que tinha tanta roupa quando na realidade acabava por vestir sempre só meia dúzia de peças. E então comecei a “limpar” o roupeiro. Nestes últimos 7 anos, devo ter feito umas 3 ou 4 limpezas. De todas as vezes que o fazia experimentei uma enorme sensação de alívio e de felicidade. E foi aqui que comecei a ter consciência de que queria ter um roupeiro “slow”, de alguma forma, voltar aquele roupeiro da infância.
Com um roupeiro slow, estamos a construir um roupeiro com aquelas peças favoritas que vestimos uma e outra vez e que nunca passam de moda em contraposição àquele armário cheio de roupa de tendência que muitas vezes usamos 2 ou 3 vezes para terminar esquecida num canto.
E como ter um roupeiro mais sustentável e slow?
A peça de roupa mais sustentável é aquela que já temos (mesmo que seja das tradicionais marcas de fast fashion!) portanto o primeiro passo é identificar aquelas peças que realmente gostamos e deixá-las bem à vista!
A seguinte peça mais sustentável depois das que já temos, são as de segunda mão. Entendo que em Portugal ainda não está muito estendida esta prática, mas cada vez há mais lojas de segunda mão e muitas têm um cariz social, ou seja, para além de estarmos a ajudar o ambiente estamos também a ajudar instituições. Eu sou fã de lojas de segunda mão de todo tipo (roupa, móveis…) e posso-vos dizer que de vez em quando encontro autênticos tesouros e até coisas que nunca foram estreadas! Para não falar no preço…E dentro do capítulo segunda mão, porque não intercambiar roupa com amigas? Quantidade de roupa que às vezes nos deixa de servir ou já não queremos, mas está em ótimo estado e resulta que a nossa melhor amiga sempre adorou esse modelo!
E quando realmente precisamos de comprar alguma peça de roupa, deixar de lado o consumo impulsivo. Ir às compras pode fazer-nos sentir melhor mas definitivamente não nos vai solucionar os problemas! Ter um roupeiro slow é ter roupa que realmente precisamos, que gostamos e que usamos. E produzida de forma ética e que a gera o mínimo impacto no ambiente. E que vai durar e não vai passar nunca de moda.
E por último algumas dicas para quando nos enfrentamos aos estímulos consumistas das lojas de roupa:
– Pensar se realmente necessitamos essa peça
– Pensar se já temos algo no roupeiro muito parecido
– Pensar se vamos usar muito essa peça
– Ver se se pode combinar com outras peças do nosso roupeiro
– Ter atenção ao tipo de materiais de que é feita.
– Ver se a roupa encaixa realmente no nosso estilo
– Ignorar tendências passageiras e privilegiar peças de roupa intemporais