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Da cidade para o campo

Todas as histórias têm duas, ou até mais versões. Esta é a minha versão. É a nossa história vista pelos meus olhos e pela minha perspectiva e portanto será sempre uma história incompleta. Mas é a que vou contar. A história de como chegamos à Quinta Sinfonia.

O Jordi nasceu nos Pirinéus numa zona rural. A sua infância foi passada entre montanhas e rios. Naquela altura quando se acabavam os primeiros estudos havia duas opções: ou ficavas por aí ou se querias continuar a estudar tinhas de mudar-te para Barcelona. Os pais do Jordi optaram por fazer um esforço e com a ajuda de uma bolsa, mandaram a um Jordi ainda criança a Barcelona para estudar num colégio interno. Nunca mais voltou à sua aldeia a não ser de visita e eu acho que aqui foi quando se começou a desenhar o nomadismo que o acompanharia ao longo da sua vida. Mais tarde licencia-se em engenharia e já a trabalhar tira o curso de belas artes. Trabalhou em muitas coisas, algumas nada que ver com a sua formação. E viveu em muitos sítios também: Paris, Canárias, Brasil e de momento, Portugal.

Eu nasci em Lisboa. Faço parte daquela geração cujos pais saíram das suas vilas ou aldeias para rumar a Lisboa e arredores em busca de mais oportunidades. O meu pai era de campo mas sempre tiramos mais para a terra da minha mãe que era terra de mar e praia. Tirei o curso de Gestão de Empresas em Lisboa e foi gestão como podia ter sido qualquer outro curso. Sempre fui boa aluna mas sem nenhum tipo de vocação especifica. Terminado o curso, comecei a trabalhar. Depois na última empresa em que trabalhei em Portugal, propuseram-me ir trabalhar para Barcelona.  Vivi em Barcelona quase 13 anos. Foi lá que conheci o Jordi. Naquela época trabalhávamos e vivíamos ambos muito perto um do outro e quis o destino que nos cruzássemos.

Ao pouco tempo de estarmos juntos, o Jordi começou a falar-me de que queria sair de Barcelona para ir viver para outro sítio. Ainda não falávamos nem em ir viver para o campo, nem de Portugal. Estávamos a princípios de 2009 e se bem que a minha vida na cidade estava a começar a transformar-se numa rotina pouco emocionante, não me via a sair de Barcelona. De vez em quando voltávamos a falar do assunto e foi então que comecei a desenvolver uma estratégia que nunca mais abandonaria sempre que queria tomar uma decisão. Visualizava-me nessa situação e tentava perceber quais eram os sentimentos que me provocava. Naquele momento e apesar de não ter uma vida muito emocionante, nada do que me propunha me entusiasmava.

Então em 2011 descobrimos que íamos ser papás! Naquela altura eu tinha um negócio próprio que me exigia muito física e psicologicamente. Tive uma gravidez tranquila que me permitiu trabalhar até 2 dias antes da Mariana nascer. Aos 15 dias, comecei a trabalhar a tempo parcial e um mês depois já estava a trabalhar a tempo completo. Não foi uma época fácil. A Mariana passou a acompanhar-me a todo o lado. Não tínhamos ninguém que nos ajudasse e eu também não a queria deixar com ninguém. Para mim foi uma época de sobrevivência e foi quando comecei a ver com claridade que aquele caminho já não se adaptava para nada às nossas necessidades individuais e familiares. Então foi quando voltamos a falar mais sobre ir-nos de Barcelona. Finalmente achamos que Portugal seria uma boa opção e eu que durante tantos anos achei que nunca voltaria para Portugal, achei que seria um bom sítio para a Mariana crescer.

“Em Março de 2011 viemos a Lisboa. Já tinhamos decidido que nos mudariamos a Portugal. Na altura ainda pensavamos eventualmente em comprar alguma coisa em Lisboa. Chegamos a sonhar com comprar algo que tivesse loja em baixo e casa em cima”.

Começamos a pensar em actividades que podíamos desenvolver em Portugal, todas na cidade. Nenhuma me entusiasmava. Então falamos na possibilidade de ir para o campo. Comprar uma casa com terreno. Com espaço, com ar puro, com animais. Com acesso a uma vida mais saudável, mais tranquila. Produzir a nossa própria comida. E então eu projectei-me no futuro e vi-me no campo. E eu que tinha passado toda a minha vida à procura de algo que nem sequer sabia o quer era, achei que tal como num puzzle, tinha encontrado a peça que me faltava encaixar.

“A primeira casa que vimos foi em Montemor-o-Novo. Chamamos-lhe a “Casa Amarela”. O Jordi, precavido já tinha até as plantas desenhadas, mas quando voltamos a contactar a agência desde Barcelona, já a tinham vendido. Eu acredito que não tinha que ser esta a nossa casa!”

Foi então que começamos a procurar quintas por internet. Na primeira selecção apareceu uma quinta na Zibreira da Fé, Sobral de Monte Agraço. O preço era um pouco superior ao que procurávamos e por isso pusemos de parte. Fizemos a primeira viagem a Portugal de carro com uma Mariana recém-nascida. Começamos a ver casas no Alentejo. Encontramos uma em Montemor-o-Novo que gostamos. Já em Barcelona voltamos a contactar a agência e informaram-nos que a tinham vendido.

Programamos uma segunda viagem a Portugal. Decidimos ver propriedades na zona de Santarém mas por curiosidade voltei a procurar aquela tal propriedade na Zibreira da Fé que tinha tão bom aspecto na descrição mas que era um pouco mais cara do que o nosso orçamento. Marquei uma visita e antes de ir para Santarém passamos por Zibreira da Fé. Estávamos a finais de Janeiro de 2012. Era um dia de inverno frio mas com um sol fantástico. Visitamos a quinta e se bem que a casa era bem simples e a precisar de muitos mimos, a propriedade era um sonho. Acho que naquele momento soubemos que esta propriedade era a tal! Vistas espectaculares, poço de água, terra fértil e árvores, muitas árvores, tantas que ainda hoje não sabemos quantas são.

Nesse mesmo ano, fizemos a escritura. Voltamos para Barcelona e antes de mudar-nos definitivamente para a Quinta ainda fizemos duas viagens mais de carro, cruzando toda a Península já com a carrinha carregada de uma vida. Ficamos uma semana para preparar a nossa mudança definitiva e na última viagem que fizemos custou-me muito ter de ir-me embora. Tinha encontrado o meu sítio.

Finalmente mudámo-nos em Abril de 2013. Saímos de Barcelona no dia 13 de Abril e chegamos à Zibreira no dia 14 de Abril. Era primavera e as árvores estavam todas em flor. Começava uma vida nova para a nossa família.

E assim foi como fizemos todos uma mudança radical nas nossas vidas. E disso já passaram 8 anos e a mim ainda me custa acreditar que o tempo tenha passado tão rápido! O caminho nem sempre tem sido fácil mas já se sabe, estamos no campo e é normal encontrar pedras no caminho, lama e buracos que nos entorpecem! Mas eu dizia no princípio que todas as histórias têm várias versões mas que esta era a minha e portanto vou terminar esta história dizendo que aqui sinto-me bem. Aqui encontrei o meu propósito.

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