Normalmente ao fim do dia gosto de me “perder” pelos campos que rodeiam a nossa aldeia. Umas vezes sozinha com os meus pensamentos. Alguma vez com o meu livro de notas. E outras com o cão. Excepto na época da quarentena em que a nossa zona ficou “altamente povoada” com pessoas ávidas de sair e estar em contacto com a natureza, nunca encontro ninguém o que, chamem-me bicho raro, me deixa muito feliz! Já conheço estes caminhos de sobra. Sei onde tenho que me desviar de um buraco. Onde há mais troncos no chão. Ou onde há ervas que picam. Mas cada passeio é como se fosse o primeiro. Cada passeio é diferente.
Os japoneses têm uma palavra para definir esta evasão no meio da natureza, shinrin-yoku, ou “banhos de floresta”. É uma prática alinhada com o slow living, que nos incentiva a abrandar, a relaxar-nos e a rodear-nos de natureza. Esta expressão é usada desde os anos 80 como contraponto a uma forma de vida urbana cada vez mais acelerada, encorajando as pessoas a estabelecer uma ligação com a natureza.
E não, o shinrin-yoku não nos vai curar milagrosamente a ansiedade ou outro tipo de doenças relacionadas com o stress mas pode ajudar a preveni-las de uma forma natural. Os efeitos dos banhos de floresta na saúde mental são imensos. Há estudos que sugerem que rodear-nos de natureza, dos seus sons, cheiros, paisagens, tem um efeito calmante, diminui o stress, aumenta a criatividade e faz-nos mais felizes. Há ainda evidências que os passeios na floresta reduzem a tensão arterial e melhoram o nosso sistema imunitário.
E agora uma confissão pessoal. Ou talvez duas! Por natureza sou dada à ansiedade. A tudo lhe dou mil voltas. Se me deixasse, viveria na antecipação de todas as desgraças havidas e por haver. Quando há 8 anos nos mudamos para o campo trazia os meus níveis de ansiedade no máximo. Por isso eu sempre digo e estou convencida que mudar-me para o campo “salvou-me” a vida. Nos primeiros tempos de estar aqui, havia momentos em que parecia que rebentava e então descia a toda a pressa até à zona do ribeiro e metia-me dentro dele. Sentava-me numa pedra. Olhava à volta e parecia que estava no meio da selva. Não via o céu, só árvores, canas e plantas por todo o lado. Também algum que outro mosquito! E isso acalmava-me muito. E quando voltava para cima tinha tirada alguma que outra pedra da mochila.
Hoje em dia os passeios que dou são mais calmos. Há dias em que me apetece ir muito rápido para que o cão estique as pernas um pouco. Outros vou mais devagar. Às vezes paro a meio do caminho e sento-me um pouco. Há dias em que fecho os olhos e tento esvaziar a mente. E noutros tento ter os olhos bem abertos para poder reter tudo. Não há regras, a única regra é disfrutar e passar um momento agradável. De um modo ou de outro, quando volto a casa, volto sempre um pouco diferente. Um pouco melhor.
É certo que vivendo numa zona rural é mais fácil aceder à natureza mas felizmente as cidades têm os seus parques e jardins, alguns bem bonitos. É buscar um momento e deixar-se envolver pela magia do verde, das árvores e dos sons da natureza. A saúde agradece!